Brasília, 14 de fevereiro de 2024 – A participação dos salários dos trabalhadores brasileiros no Produto Interno Bruto (PIB) registrou uma significativa queda de 12,9% em um período de cinco anos, atingindo o menor nível em 16 anos, segundo dados divulgados pela Agência Brasil. Em 2016, os salários correspondiam a 35,5% do PIB, percentual que recuou para 31% em 2021, marcando um retrocesso nos ganhos sociais e econômicos conquistados anteriormente.
Esse fenômeno não apenas reflete as adversidades enfrentadas pela economia brasileira, como a recessão iniciada em 2015 e os impactos da pandemia de COVID-19, mas também sinaliza um aumento preocupante na desigualdade social. O contraste fica ainda mais evidente ao se observar o crescimento do superávit operacional bruto das empresas, que viu sua participação no PIB saltar de 32,3% para 37,5% no mesmo período, conforme aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Márcio Pochmann, presidente do IBGE, destacou a reversão da tendência positiva que vinha sendo observada entre 2004 e 2016, quando os salários aumentaram sua fatia no PIB de 30,6% para 35,67%. A análise do especialista sugere que as políticas neoliberais recentes desmantelaram rapidamente os avanços sociais, relegando o país ao grupo de nações com baixos salários e empregos precários.
A recessão econômica e a pandemia, juntamente com a reforma trabalhista, foram apontadas pelo professor Pedro Paulo Zahuth Bastos, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), como fatores determinantes para essa queda. A diminuição do poder de barganha dos trabalhadores, em um contexto de alta inflação e desemprego crescente, contribuiu para a deterioração da distribuição de renda.
O impacto dessa mudança na estrutura do PIB vai além da economia, afetando diretamente o tecido social do Brasil. Um menor repasse da renda nacional aos trabalhadores limita o consumo e, por consequência, o potencial de crescimento do mercado interno. Isso, segundo Bastos, desestimula investimentos produtivos e favorece a concentração de renda em ativos financeiros, em vez de na geração de empregos e bem-estar social.
A redução da participação dos salários no PIB não apenas exacerba a desigualdade social, mas também representa um obstáculo ao desenvolvimento econômico sustentável do país. Diante desse cenário, torna-se imperativo repensar as políticas econômicas e trabalhistas para reverter essa tendência e promover uma distribuição de renda mais equitativa, capaz de impulsionar o crescimento econômico e melhorar a qualidade de vida dos brasileiros.