É comum encontrar casais que, consciente ou inconscientemente, acabam por somar e subtrair ações e favores como numa contabilidade doméstica do amor. Esta prática, muitas vezes vista como prejudicial à saúde emocional de uma relação, é na verdade uma faceta humana inegável. Afinal, quem nunca lembrou ao parceiro o número de vezes que teve que lidar com a pilha de louça suja na semana ou apontou a frequência das visitas à família alheia em detrimento da própria?
Igualdade Versus Contabilidade no Amor
Buscar um balanço justo entre o dar e o receber em um relacionamento pode ser um desafio. A psicóloga e sexóloga Jennifer Vencill compartilha com a revista Vice que tal “pontuação” pode, até certo ponto, ser considerada não apenas uma ação humana, mas também benéfica para a relação. A questão da igualdade, embora idealmente desejável, é complexa e muitas vezes inatingível na prática. Assim, ao levantar a voz sobre as contribuições de cada um, está-se, de certa forma, buscando equilibrar essa balança muitas vezes desigual.
Negociações e Percepções: O Peso da Contribuição no Relacionamento
A prática de manter um registro mental ou verbal das contribuições pode ser uma ferramenta para iluminar as realizações pessoais e negociar o que se espera em retorno. Especialmente em casais heterossexuais, Vencill aponta a existência de um abismo considerável na distribuição de tarefas domésticas. Por meio da expressão dessa “pontuação”, pode-se chamar atenção para a distribuição desequilibrada do trabalho e da carga mental, buscando um suporte mútuo e uma divisão de papéis mais justa e equitativa.
Embora o ato de “manter pontuação” em um relacionamento possa soar como um jogo perigoso, se aplicado com consciência e em doses moderadas, pode revelar-se uma ferramenta de comunicação eficaz. O equilíbrio na relação não se trata apenas de um número exato, mas da percepção de valorização e reconhecimento mútuo. A contabilidade afetiva pode não ser a resposta para todos os casais, mas é um diálogo válido sobre as contribuições de cada um na dinâmica amorosa.
Adriana Carvalho
