Nas eleições municipais de 2024, a vitória de Ricardo Nunes (MDB) para a prefeitura de São Paulo destacou-se não apenas pelo resultado, mas pelas alianças e dinâmicas políticas que refletem tendências maiores no cenário nacional. O apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) foi crucial para garantir a reeleição de Nunes, em um contexto marcado por uma exclusão significativa ao seu principal adversário, Guilherme Boulos (PSOL).
O processo eleitoral trouxe novamente à tona uma questão recorrente: a alta abstenção. Em São Paulo, mais de 31% dos participantes não compareceram às urnas, superando a taxa de 2020, durante a pandemia. Esse cenário sugere um crescente desapreço pela política local, refletindo um desinteresse ou seleção às opções oferecidas.
A campanha de Guilherme Boulos enfrentou grandes desafios, especialmente devido à resistência histórica de algumas reuniões ao seu nome. Apesar de ter conquistado cerca de 40% dos votos, repetindo o desempenho de 2020, sua candidatura não conseguiu crescer, mesmo com o apoio significativo do Partido dos Trabalhadores (PT) e do presidente Lula. Esse apoio, no entanto, gerou um custo político para o PT, que agora enfrenta críticas internacionais e inicia um processo de “lavagem de roupa suja” para compensar suas alianças futuras.
Apoio de Tarcísio: O Peso da Aliança
O governador Tarcísio de Freitas emergiu como um dos principais articuladores dessa eleição. Seu apoio a Ricardo Nunes não só fortaleceu a candidatura de prefeito como também sinalizou a formação de uma aliança estratégica para as eleições de 2026. Ao contrário de Jair Bolsonaro, que introduziu uma postura mais ambígua em relação ao apoio explícito a Nunes, Tarcísio manteve uma postura firme, solidificando-se como uma figura central da direita não bolsonarista.
A atuação de Tarcísio também gerou polêmica. Durante o segundo turno, ele recebeu uma suposta ligação de Guilherme Boulos com o PCC, uma declaração que, segundos especialistas, foi uma tentativa de influência sobre o resultado eleitoral. Essa fala, criticada por muitos, não foi determinante para a derrota de Boulos, mas revelou uma estratégia agressiva e pragmática para manter o controle sobre o eleitorado conservador e impedir o avanço de candidaturas da extrema direita, como a de Pablo Marçal, que despontou como uma ameaça inesperada.
O Cenário Nacional e a Força do Centrão
Em termos nacionais, as eleições legislativas mostraram um fortalecimento do centrão. Partidos como PSD, MDB e Republicanos consolidaram presença em várias cidades importantes, incluindo São Paulo e Belo Horizonte. O resultado reforça o papel desses partidos como peças centrais no xadrez político de 2026. A vitória de Nunes e o fortalecimento do centrão sugerem um movimento pragmático para alianças que possam enfrentar tanto a esquerda conquistada por Lula quanto a direita bolsonarista.
O PSD, liderado por Gilberto Kassab, destacou-se como um dos principais vencedores ao ampliar significativamente o número de prefeituras sob seu controle. A flexibilidade ideológica do partido permitiu que ele adotasse diferentes perfis em regiões como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, adaptando-se às dinâmicas locais e se consolidando como um partido “camaleônico”.
A Direita e a Divisão Interna
Apesar do fortalecimento do centrão, a direita bolsonarista enfrenta desafios internos. Jair Bolsonaro, inelegível, mantém uma influência específica, mas sua base começa a procurar novas lideranças. A campanha de Pablo Marçal em São Paulo e a competitividade de André Fernandes em Fortaleza indicam que há um espaço de disputa dentro desse espectro político, que não pode ser ignorado.
O desafio para a direita tradicional e o bolsonarismo será encontrar um equilíbrio entre manter uma base conservadora engajada e, ao mesmo tempo, evitar divisões que possam enfraquecer suas candidaturas nas eleições nacionais de 2026. Tarcísio de Freitas emerge como uma ponte possível entre esses grupos, mas sua posição é delicada, pois depende tanto do apoio de Bolsonaro quanto do centrão para manter sua relevância.
As eleições municipais de 2024 deixaram claro que o cenário político brasileiro está em constante transformação. A abstenção registrada e as alianças estratégicas sugerem que partidos e lideranças precisarão compensar suas estratégias para manter relevância. O centrão saiu fortalecido, enquanto a esquerda enfrenta desafios para se consolidar nas grandes cidades. A direita bolsonarista, por sua vez, precisa lidar com a falta de um líder natural para o pós-Bolsonaro, enquanto figuras como Tarcísio de Freitas tentam equilibrar diferentes interesses. O caminho para 2026 é aberto e promete mais debates intensos e imprevisíveis.
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