A participação ativa de líderes europeus decorre do temor de que Moscou não se limite à Ucrânia e mantenha um ambiente de ameaça sobre países do continente. Nesse cenário, a segurança europeia — sobretudo entre nações do oeste — voltou ao centro do debate, com ênfase em garantias concretas à Ucrânia e em mecanismos de dissuasão que reduzam a assimetria no campo de batalha.

O que saiu da cúpula do Alasca

Declarações públicas após o encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin geraram leitura ambígua:

  • Garantias “ao estilo OTAN” teriam sido aventadas como modelo político de proteção à Ucrânia, sem constituir uma adesão formal.

  • Opacidade nas negociações: assessores de ambos os lados ofereceram versões contraditórias sobre o que foi discutido.

  • Mudança de tom: Trump alternou entre cobrar consequências à Rússia e relativizar a necessidade de um cessar-fogo imediato, ampliando a percepção de incerteza.

Por que a Europa se mobiliza

  • Risco de escalada regional: receio de que a pressão russa ultrapasse a Ucrânia.

  • Dependência crítica: a Ucrânia precisa de inteligência de campo e armamentos avançados; a Europa busca blindar a continuidade desse suporte.

  • Credibilidade das garantias: sem gatilhos claros e verificáveis, qualquer compromisso tende a ser percebido como frágil, o que reduziria o poder de dissuasão.

O ponto duro: território e linha de contato

Moscou reivindica controle integral de áreas no Donbas, incluindo cidades estratégicas como Sloviansk e Kramatorsk, apesar de não dominar toda a região. Kiev recusa concessões territoriais e defende que um cessar-fogo sem garantias robustas apenas congelaria o conflito, permitindo à Rússia consolidar ganhos sem solução política duradoura.

Europa, EUA e as “garantias ao estilo OTAN”

Mesmo sem formalizar a defesa coletiva prevista no Artigo 5, aliados discutem um arcabouço de garantias com:

  • Compromissos de resposta rápida a violações;

  • Integração de defesa aérea e compartilhamento de inteligência;

  • Financiamento multianual para sustentação logística e de munições;

  • Mecanismo de verificação para monitorar eventual cessar-fogo.

Papel dos europeus

A expectativa é converter intenções em instrumentos operacionais, reduzindo a margem para interpretações divergentes e assegurando previsibilidade a Kiev.

Linhas de negociação e obstáculos

EixoPosição da RússiaPosição da UcrâniaPapel de EUA/EuropaObstáculo central
DonbasControle totalSem cessões territoriaisCondicionar garantias a respeito ao mapa atualAlto custo político e legal
CrimeiaReconhecimento de anexaçãoRejeitaEvitar “fait accompli”Precedente internacional perigoso
OTAN/NeutralidadeVeto de longo prazoNão aceita veto permanenteGarantias alternativas e interoperabilidadeCredibilidade dos compromissos
Cessar-fogoAtrelado a acordo amploSó com garantias verificáveisFiscalização e monitoramentoRisco de “conflito congelado”
Garantias de segurançaNegociáveis/ambíguasEssenciais e com gatilhos clarosCoalizão de países dispostosDivergência entre discurso e execução

O que observar nas próximas 72 horas

  • Texto das garantias: se incluirá gatilhos automáticos de assistência ou ficará em termos políticos genéricos.

  • Formato europeu: grau de coordenação entre principais capitais para financiar e sustentar o apoio no longo prazo.

  • Resposta russa: sinais de flexibilização ou manutenção da ambiguidade estratégica.

  • Linha de frente: intensidade de ataques e tentativas de consolidar posições antes de qualquer pausa.

Deixe o Seu Comentário

Quer saber tudo
o que está acontecendo?

Receba todas as notícias do O Petróleo no seu WhatsApp.
Entre em nosso grupo e fique bem informado.

ENTRAR NO GRUPO

Compartilhar.

Suzana Melo é economista formada pela PUC-SP e especialista em Finanças e Gestão Pública pela FGV. No O Petróleo, cobre temas como investimentos, petróleo e gás, macroeconomia e tributação sobre ativos financeiros. Suas análises unem rigor técnico e clareza, ajudando o leitor a compreender tendências e a tomar decisões seguras no mercado nacional e internacional.