O Canadá está no centro de uma possível virada histórica na geopolítica global. Em meio à escalada da guerra comercial com os Estados Unidos, o governo canadense intensificou conversas com países do Brics — bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — para um possível ingresso oficial, movimento que poderia abalar alianças econômicas consolidadas há décadas.

Crise comercial e reação canadense

O retorno de Donald Trump à Casa Branca, em 2025, resultou na ruptura do acordo de livre comércio e no aumento de tarifas sobre produtos canadenses para até 35%. Madeira, aço, alumínio, laticínios e automóveis foram diretamente atingidos, gerando prejuízos bilionários e demissões em larga escala. Grandes empresas como General Motors e Magna registraram quedas superiores a 9% no valor de mercado logo após o anúncio.

A população respondeu de forma contundente: 91% dos canadenses apoiam reduzir a dependência econômica dos EUA e 71% afirmam que evitarão produtos norte-americanos neste ano. Supermercados e redes varejistas iniciaram boicotes a mercadorias importadas dos EUA, reforçando o distanciamento comercial.

Negociações com o Brics

Fontes indicam que o primeiro-ministro Mark Carney e diplomatas canadenses participaram de reuniões reservadas com representantes de China, Brasil e Rússia em diversas localidades, incluindo encontros sigilosos em Zurique com mais de 11 horas de duração. As tratativas envolveram:

  • Acordos comerciais com redução de barreiras.

  • Uso de moedas locais e possível diversificação das reservas para yuan e rúpia.

  • Participação no Novo Banco de Desenvolvimento do bloco.

Se concretizado, o Canadá seria o primeiro país do G7 a integrar o Brics, ampliando o alcance global do grupo e sinalizando uma ruptura profunda com a ordem econômica ocidental.

Motivos que atraem o Canadá

  1. Blindagem contra sanções — seguindo o exemplo da Rússia, que redirecionou mercados após restrições ocidentais.

  2. Diversificação econômica — o Brics representa 46% da população mundial e 35,6% do PIB global.

  3. Alternativa ao dólar — com debates sobre moedas digitais e sistemas financeiros próprios.

  4. Prestígio diplomático — tornando-se ponte entre hemisférios e fortalecendo sua influência internacional.

Riscos e desafios

A mudança traria riscos como isolamento tecnológico, retaliações adicionais dos EUA e desgaste diplomático com parceiros históricos, como os membros da aliança de inteligência “Five Eyes”. Por outro lado, abriria acesso imediato a novos mercados e cadeias produtivas, além de fortalecer a autonomia econômica.

Impacto para os EUA e para o Brics

Estudos da Oxford Economics estimam que a saída comercial canadense poderia gerar perdas de até US$ 90 bilhões para a economia norte-americana e reduzir o PIB dos EUA em até 0,3%. Para o Brics, a entrada canadense teria valor simbólico e estratégico, consolidando o bloco como força global, além de atrair o interesse de outros países como o México.

Uma nova ordem global?

Especialistas alertam que o movimento canadense pode acelerar a fragmentação da economia mundial, enfraquecendo a globalização nos moldes atuais. Para críticos da postura de Trump, a política de tarifas e ameaças tem efeito reverso: estimula aliados históricos a buscar alternativas e reduz a influência dos EUA.

Se confirmado, o ingresso do Canadá no Brics marcaria não apenas uma reorientação comercial, mas também uma redefinição de sua identidade e posição no tabuleiro global.

Deixe o Seu Comentário

Quer saber tudo
o que está acontecendo?

Receba todas as notícias do O Petróleo no seu WhatsApp.
Entre em nosso grupo e fique bem informado.

ENTRAR NO GRUPO

Compartilhar.

Suzana Melo é economista formada pela PUC-SP e especialista em Finanças e Gestão Pública pela FGV. No O Petróleo, cobre temas como investimentos, petróleo e gás, macroeconomia e tributação sobre ativos financeiros. Suas análises unem rigor técnico e clareza, ajudando o leitor a compreender tendências e a tomar decisões seguras no mercado nacional e internacional.