O Brasil está sentado sobre um ativo estratégico capaz de mudar sua trajetória econômica: as terras raras. Estimadas em 21 milhões de toneladas, essas reservas colocam o país na segunda posição mundial e no centro da disputa por tecnologias de carros elétricos, turbinas eólicas, satélites, eletrônicos e defesa. A janela de oportunidade é clara: construir uma cadeia completa — da mina ao produto final — ou repetir o erro histórico de exportar o concentrado e comprar, a preços altos, a tecnologia pronta.

O que são terras raras — e por que importam

As terras raras são um grupo de 17 elementos usados em ímãs de alta performance, telas, sensores, sistemas de energia e equipamentos militares. Eles são o alicerce da economia digital e da transição energética, impulsionando setores de alto valor agregado e empregos qualificados.

Onde o Brasil está no mapa global

  • Reservas conhecidas: 21 milhões de toneladas (2º lugar global).

  • Desafio: desenvolver capacidade de refino e separação em escala industrial.

  • Oportunidade: integrar mineração, química, metalurgia e manufatura de ímãs permanentes.

Reservas e domínio do refino (estimativas recentes)

País/IndicadorReservas (Mt)Participação no refino
China4485–90%
Brasil21incipiente
Vietnã~22baixa
EUA/Austráliamenorescrescente
MundoChina dominante
Mt = milhões de toneladas; refino = separação/processamento industrial de terras raras.

O “gargalo invisível”: refino e fabricação de ímãs

Ter reservas não basta. O valor está no midstream (separação e óxidos de alta pureza) e no downstream (ligas e ímãs). Hoje, a China concentra a maior parte do processamento e da produção, o que lhe confere poder geopolítico e industrial. Para o Brasil, vender apenas concentrado significa abrir mão de margem, empregos e autonomia tecnológica.

Risco de “repetir o passado”

Sem política industrial, regulação ambiental séria e investimento em pesquisa e inovação, o país corre o risco de se tornar fornecedor barato e comprador de tecnologia cara. Esse cenário repetiria ciclos históricos de exploração de commodities. O caminho alternativo passa por contrapartidas de conteúdo local, financiamento ao refino e metas de manufatura avançada.

Soberania, segurança e transição energética

Dominar a cadeia de terras raras é questão de Estado: sem ímãs de neodímio e praseodímio, não há turbinas eólicas modernas, motores de veículos elétricos competitivos, radares ou satélites estratégicos. Em um mundo de tensões comerciais, depender de importações para insumos críticos é um risco de soberania.

Oportunidade de reposicionamento

O cenário internacional pressiona por diversificação fora da China. Países desenvolvidos buscam fornecedores alternativos, e o Brasil surge como candidato natural. Se investir em infraestrutura, inovação e parcerias que priorizem a produção local, pode transformar o potencial mineral em protagonismo tecnológico.

Agenda mínima para virar protagonista

  1. Política industrial robusta: metas claras para refino e produção de ímãs.

  2. Financiamento e crédito: apoiar projetos de química pesada e metalurgia.

  3. Pesquisa e desenvolvimento: investir em separação avançada e novos usos.

  4. Sustentabilidade: garantir extração limpa e gestão de resíduos tóxicos.

  5. Diplomacia estratégica: negociar acordos que tragam produção e tecnologia ao território nacional.

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Suzana Melo é economista formada pela PUC-SP e especialista em Finanças e Gestão Pública pela FGV. No O Petróleo, cobre temas como investimentos, petróleo e gás, macroeconomia e tributação sobre ativos financeiros. Suas análises unem rigor técnico e clareza, ajudando o leitor a compreender tendências e a tomar decisões seguras no mercado nacional e internacional.