A recente eleição trouxe à tona uma questão pouco debatida e ainda fundamental para o futuro do país: a representatividade negra na política. Com uma população negra que representa mais da metade dos seus 213 milhões de habitantes, o Brasil ainda luta para superar as barreiras históricas de racismo e exclusão na esfera política. Dados preliminares das eleições de outubro mostram que, embora haja um número recorde de candidatos negros eleitos, ainda há um longo caminho para equilibrar essa representatividade com a realidade demográfica.
Damazio Santana dos Santos, ou “Mazo”, candidato ao Congresso pela Bahia, vivenciou de perto o preconceito ainda presente em meio à campanha. Em setembro, teve sua casa pichada com frases racistas e, apesar de habituado a lidar com esse tipo de ataque, ele destacou a importância de persistir na candidatura para abrir caminhos para outros negros na política. “Para muitos, nossa presença nesse espaço é uma frente ao status quo”, afirmou ele ao jornal O Globo .
O racismo sistêmico no Brasil, fortemente enraizado no legado da escravidão, perpetua-se nas estruturas políticas dominadas, em sua maioria, por homens brancos. Vanessa Nascimento, do Instituto de Referência Negra Peregum, aponta que os partidos políticos, majoritariamente controlados por brancos, ainda limitam a participação e a visibilidade de candidatos negros.
Uma mudança importante ocorreu no ano passado, com uma resolução que vinculou o financiamento público dos partidos ao número de candidatos de minorias, aumentando a presença de mulheres e negros nas listas eleitorais. O resultado foi visível nas eleições deste mês: um número recorde de 135 deputados autodeclarados negros foram eleitos, marcando um avanço, ainda que distante de refletir plenamente a composição racial do país.
Curiosamente, o maior número de candidatos negros eleitos está ligado a partidos de direita, incluindo o Partido Liberal de Bolsonaro. Esse cenário revela uma mudança no perfil dos candidatos e uma estratégia de adaptação à nova regulamentação, que foi evidenciada pela alteração da autodeclaração racial de muitos candidatos antes das eleições.
Com o segundo turno entre Bolsonaro e Lula, a expectativa entre a comunidade negra é de que um possível governo Lula traga uma postura mais inclusiva e menos polarizadora para a questão racial, já que aproximadamente 60% dos eleitores negros votaram em Lula no primeiro turno. A busca por um presidente negro ainda é um sonho distante, mas cada conquista no Congresso representa um passo para aproximar a política brasileira da diversidade racial que caracteriza a população.
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