Muitos investidores acreditam que ao contratar um título do Tesouro IPCA+ — seja para médio ou longo prazo — estarão automaticamente protegidos contra a inflação, garantindo aumento do poder de compra. Mas será que isso acontece na prática?
Simulações mostram que a resposta depende principalmente do prazo do título e do cenário econômico. Títulos de longo prazo tendem a ser mais eficazes para essa proteção, enquanto títulos de médio prazo podem ser mais impactados por altas inesperadas da inflação e pelo imposto de renda.
Como funciona o retorno do Tesouro IPCA+?
O Tesouro IPCA+ é um título público que paga ao investidor duas parcelas:
A variação do IPCA (índice oficial da inflação)
Uma taxa real previamente contratada (por exemplo, 7% ao ano)
Essa combinação garante um retorno nominal (bruto) formado por juros reais + inflação. Porém, é preciso descontar o imposto de renda sobre o ganho nominal para calcular o verdadeiro retorno real líquido — que é o ganho acima da inflação, já com imposto pago.
Exemplos práticos: números reais em diferentes cenários
A seguir, uma comparação entre títulos com vencimentos em 2029, 2040 e 2050, considerando taxas reais próximas a 7% e diferentes níveis de inflação.
Simulação com inflação média de 5% ao ano:
Vencimento | Taxa real contratada | Retorno bruto nominal (4 anos) | Retorno real líquido |
---|---|---|---|
2029 | IPCA + 7% | 59,33% | IPCA + 5,47% |
2040 | IPCA + 7% | — | IPCA + 6,06% |
2050 | IPCA + 7% | — | IPCA + 6,35% |
Nesse cenário, quanto mais longo o vencimento, maior o retorno real líquido, graças ao efeito dos juros compostos ao longo do tempo.
E se a inflação disparar?
Com uma inflação média de 50% ao ano (hiperinflação), o impacto é significativo:
Vencimento | Retorno real líquido |
---|---|
2029 | IPCA + 3,42% |
2040 | IPCA + 5,85% |
2050 | IPCA + 6,31% |
Por que o prazo faz tanta diferença?
O segredo está nos juros compostos. Com um prazo maior, os juros reais têm mais tempo para se acumular e “diluir” o impacto do imposto de renda e da inflação alta.
Em um título com vencimento próximo (como 2029), a fatia do imposto sobre o rendimento bruto pesa mais, pois os juros ainda não tiveram tempo suficiente para crescer e compensar essa perda.
O risco do calote existe?
Outra dúvida comum entre investidores é o risco de inadimplência do governo federal. Hoje, a dívida pública brasileira está amplamente distribuída: cerca de 30% está em mãos de bancos, 24% com a previdência, 21% com fundos de investimento e 10% com investidores estrangeiros.
Portanto, um eventual calote afetaria não apenas a pessoa física, mas todo o sistema financeiro, tornando essa hipótese menos provável.
Quando faz sentido investir no Tesouro IPCA+?
O Tesouro IPCA+ é especialmente útil para dois objetivos:
Médio prazo (4–6 anos): Para proteger o capital destinado a metas com data definida e pouco tolerância ao risco.
Longo prazo (15–25 anos): Para garantir crescimento do patrimônio com proteção real ao poder de compra, mesmo em cenários de inflação alta.
Vale lembrar que essa não precisa ser a única opção da carteira. Outros produtos de renda fixa e até de renda variável podem ajudar a diversificar e otimizar os retornos.
Resumo das vantagens e limitações
Vantagens:
Proteção contra a inflação contratada
Garantia do Tesouro Nacional
Retorno real previsível no longo prazo
Limitações:
Imposto de renda sobre o ganho total
Retorno real líquido menor em prazos curtos
Mais sensível à inflação alta em vencimentos de médio prazo
O Tesouro IPCA+ é uma ferramenta eficiente para proteger seu dinheiro contra a inflação, principalmente em prazos mais longos. Embora o retorno final seja menor do que a taxa contratada — devido ao imposto de renda e aos efeitos da inflação — o investidor ainda garante ganhos reais que preservam e aumentam o poder de compra ao longo do tempo.
Para montar uma estratégia consistente, é importante entender como o título funciona, avaliar os riscos e escolher os prazos que mais se adequam aos seus objetivos.
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