A Raízen (RAIZ4), uma das maiores empresas do setor sucroenergético da América Latina, atravessa um dos momentos mais desafiadores desde seu IPO. Em julho de 2025, a companhia acumula prejuízo superior a R$ 4 bilhões nos últimos 12 meses, com um salto expressivo na dívida bruta, que passou de R$ 47 bilhões para R$ 68 bilhões. Para mitigar os efeitos da alta alavancagem e do ciclo adverso de preços do etanol e açúcar, a empresa concluiu uma captação de R$ 4,12 bilhões no mercado internacional, com vencimento em 2032 e custo de 6,25% ao ano.

A operação, conduzida por meio da subsidiária Raízen Fuels Finance, prevê liquidação em 8 de julho e representa uma tentativa da companhia de reequilibrar seu fluxo de caixa, fortemente pressionado por um ciclo de investimentos intensos — principalmente no etanol de segunda geração, tecnologia ainda não consolidada nos resultados operacionais.

Etanol de segunda geração ainda não entrega retorno esperado

Um dos principais projetos estratégicos da Raízen, o etanol de segunda geração (E2G), já está em operação em algumas unidades, mas ainda não gera o retorno esperado. Apesar de investimentos pesados e da promessa de ganhos em produtividade, a tecnologia não tem se mostrado suficiente para alavancar os resultados no curto prazo.

O investimento contínuo no E2G, aliado à sazonalidade climática adversa nas regiões produtoras, contribui para a deterioração dos indicadores operacionais. O fluxo de caixa livre da companhia está negativo, com necessidade constante de financiamento para manutenção das operações.

Dividendos pressionados e prejuízo acumulado travam distribuição em 2025

Diferentemente de anos anteriores, a Raízen não anunciou distribuição de dividendos em 2025 até o início de julho, acompanhando movimento semelhante da Cosan (CZAN3), sua controladora. A ausência de lucros e o foco em desalavancagem indicam que os acionistas não devem contar com pagamentos relevantes neste exercício.

Mesmo com um dividend yield médio histórico de 7,96% desde o IPO, impulsionado pela forte queda nas cotações, a perspectiva para este ano é de vacas magras, considerando o prejuízo operacional e o elevado comprometimento com investimentos e dívidas.

Valuation aponta desconto relevante, mas micro ainda pesa

Segundo dados da plataforma InvestingPro, o valor patrimonial por ação da Raízen está atualmente próximo de R$ 1,98, enquanto a cotação gira em torno de R$ 1,67 — o que representa um desconto superior a 15%. A alavancagem medida pela dívida líquida/EBITDA se aproxima de 5 vezes, considerada elevada para padrões setoriais.

O preço-alvo médio dos 13 analistas que cobrem o papel é de R$ 3,12, sinalizando potencial de valorização superior a 80%. Entretanto, o cenário micro — com prejuízo recorrente, fluxo de caixa negativo e ausência de dividendos — torna o case altamente dependente de um turnaround operacional ou de um novo ciclo de alta para os biocombustíveis.

Comparativo com concorrentes revela desvantagem operacional

Em análise setorial, a Raízen aparece como a empresa mais alavancada e menos eficiente entre os pares Jalles Machado (JALL3) e São Martinho (SMTO3). Enquanto estas mantêm endividamento controlado e distribuem dividendos regularmente, a Raízen segue pressionada por um ciclo de investimentos sem retorno proporcional.

Indicadores compilados pelo Clube dos Dividendos mostram que, nos últimos três anos, a Raízen teve o maior dividend yield médio entre as sucroenergéticas (7,96%), mas à custa de forte desvalorização das ações. A rentabilidade das ações RAIZ4 em 2025 registra queda acumulada de 21,6%, enquanto o Ibovespa sobe 16% no mesmo período.

Mercado de opções e análise gráfica indicam suporte em R$ 1,35

Na análise gráfica, RAIZ4 trabalha em patamar próximo ao suporte técnico de R$ 1,35, considerado o piso atual pelo analista Bruno Mazoni. A ação chegou a ser negociada a seis vezes seu valor patrimonial no IPO, mas hoje opera com múltiplos significativamente inferiores, refletindo frustração com os resultados entregues desde a abertura de capital.

No mercado de derivativos, a faixa entre R$ 1,50 e R$ 1,30 concentra as melhores oportunidades de venda de opções (puts), com prêmios que variam entre R$ 0,10 e R$ 0,27, segundo a análise do especialista. A estratégia é considerada por investidores como alternativa à compra direta das ações, diante da ausência de dividendos no curto prazo.

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André Carvalho é jornalista formado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e possui MBA em Gestão de Negócios pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Com mais de 15 anos de experiência no mercado editorial, André é reconhecido por sua expertise em economia, finanças e políticas públicas. Sua trajetória inclui colaborações com veículos de grande relevância, onde desenvolveu análises estratégicas e conteúdos voltados para investimentos, benefícios sociais e gestão financeira.