Com a contagem regressiva para a COP 30, Belém se transformou em um verdadeiro canteiro de obras. Máquinas trabalham dia e noite, avenidas cortam áreas de mata, estruturas metálicas surgem no coração da cidade. A capital do Pará está sendo reformulada para sediar o maior evento climático do planeta, que reunirá representantes de quase 200 países em novembro de 2025. No entanto, o que deveria ser um símbolo de progresso está dividido entre aplausos e duras críticas.

Um evento global em meio à floresta

A escolha de Belém para sediar a 30ª Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas foi estratégica. Pela primeira vez, o evento será realizado no coração da Amazônia, colocando a floresta no centro do debate climático global. O governo brasileiro viu na conferência uma oportunidade de atrair investimentos, dar visibilidade internacional à região e impulsionar o desenvolvimento urbano.

Contudo, a cidade enfrentava limitações estruturais severas: rede hoteleira modesta, saneamento deficiente, mobilidade precária e carência de espaços para eventos de grande porte. Com isso, iniciou-se uma corrida contra o tempo para modernizar a infraestrutura urbana.

As principais obras da COP 30

Avenida Liberdade

A nova via de 13,2 km, com quatro faixas, ciclovias e 24 passagens de fauna, interligará Marituba à Avenida Perimetral. Considerada estratégica para a mobilidade da região metropolitana, sua entrega está prometida para outubro. Entretanto, o traçado cortou áreas de vegetação nativa, levantando críticas sobre desmatamento e impacto em ecossistemas locais.

Parque da Cidade

Construído no antigo aeroporto Brigadeiro Protásio, o novo parque ocupará 500 mil m² com museu da aviação, ciclotrilhas, floresta preservada e um lago central. Com 78% das obras concluídas, a inauguração deve ocorrer em setembro. O projeto prevê o plantio de 2.500 árvores, incluindo espécies ameaçadas.

Revitalização urbana

As obras nos canais da Doca e Gentil Bittencourt incluem nova pavimentação, drenagem, passarelas e ciclovias. Já a macrodrenagem da Bacia do Tucunduba, entregue em maio, beneficiou 300 mil pessoas. Intervenções semelhantes continuam nas bacias do Murutuku e Itamandaré.

Saneamento básico

Mais de R$ 1,8 bilhão foram investidos em oito grandes obras de saneamento. Destaques incluem:

  • Estação de tratamento do Una (475 litros/s, 90 mil beneficiados)

  • Sistema de esgotamento do Ver-o-Peso (4,1 km de rede, 60 mil pessoas)

  • Expansão da macrodrenagem da cidade

Infraestrutura e hospedagem

Com investimento de R$ 450 milhões, o Aeroporto Internacional de Belém está sendo ampliado. Novos hotéis e alojamentos alternativos elevarão a capacidade de hospedagem para até 50 mil leitos.

Críticas e polêmicas: o outro lado da COP 30

Apesar do discurso de legado sustentável, as obras têm gerado controvérsias. Organizações ambientais denunciam desmatamento de áreas nativas, especialmente na construção da Avenida Liberdade, que atravessa corredores ecológicos e impacta a fauna.

Além disso, remoções forçadas de comunidades periféricas e intervenções em áreas de proteção ambiental resultaram em inquéritos do Ministério Público. A instalação de “árvores artificiais” metálicas, símbolo de urbanismo verde, virou alvo de críticas por gerar mais calor urbano do que sombra e por seu alto custo de manutenção.

Outro ponto sensível é a falta de participação popular nos processos decisórios. Projetos foram aprovados sem audiências públicas ou consulta às comunidades afetadas, o que aumentou a desconfiança sobre os reais interesses das obras.

O legado em disputa

O governo estadual defende que as intervenções extrapolam a COP e visam resolver gargalos históricos de Belém. A Avenida Liberdade, por exemplo, estaria em planejamento antes da conferência e teve apenas seu cronograma acelerado. Autoridades destacam ainda o uso de ciclovias, energia solar e passagens de fauna como mitigadores dos impactos ambientais.

No entanto, para grupos sociais, indígenas e ONGs, trata-se de um caso clássico de greenwashing: um marketing verde que mascara impactos ambientais e sociais profundos. Segundo eles, a cidade está sendo moldada para impressionar a comunidade internacional, sem resolver as urgências cotidianas da população local.

A COP 30 promete colocar Belém no centro do mapa mundial, mas também escancarou desigualdades, tensões sociais e dilemas ambientais. O resultado das obras será duradouro ou passageiro? Sustentável ou estético? Para muitos moradores, a resposta ainda está em aberto. Até novembro de 2025, os olhos do mundo estarão voltados para a Amazônia  e o julgamento sobre o legado da COP será feito tanto pelos líderes globais quanto por quem vive diariamente a cidade.

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Pamela Batista, fala tudo sobre o setor de construção, incluindo obras públicas, infraestrutura, construção pesada e civil.