As ações do Banco do Brasil (BBAS3) vêm passando por um dos momentos mais delicados desde a pandemia. Depois de ser tratada por muitas casas de análise como “a melhor ação da bolsa”, o papel virou alvo de forte correção: a queda recente beira 30%, em meio à combinação de lucro abaixo do esperado, mudanças contábeis, aumento da inadimplência e revisão de guidance.
Mesmo assim, há investidores indo na direção oposta ao consenso e aproveitando o movimento como oportunidade de compra, apostando em recuperação do banco e na força do agronegócio nos próximos anos.
Lucro abaixo das expectativas detonou a queda
No primeiro trimestre de 2025, o Banco do Brasil reportou lucro líquido de aproximadamente R$ 7,3 bilhões, queda de 20,7% em relação ao mesmo período do ano anterior e de 23% frente ao quarto trimestre de 2024. O número frustrou o mercado: a projeção era de algo próximo a R$ 9 bilhões.
O resultado mais fraco foi o estopim para a correção das ações, que já vinham sob pressão pelo risco político típico de empresas estatais e pelo ambiente de incerteza em ano de eleições. Em poucas semanas, BBAS3 saiu da casa dos R$ 30 para a faixa dos R$ 22, acendendo um alerta entre investidores mais avessos ao risco – e chamando a atenção de quem enxerga desconto exagerado.
Resolução 4.966/21: a “mudança invisível” que pesou no lucro
Um dos pontos pouco discutidos fora dos relatórios técnicos, mas destacado por quem analisou o balanço em detalhe, foi o impacto da Resolução CMN 4.966/2021, que altera o modelo de provisões para perdas esperadas.
Na prática, a nova regra mexe em como os bancos reconhecem receitas e despesas de crédito, especialmente em operações com atraso superior a 90 dias. O que antes podia ser tratado como receita “provável” agora precisa ser visto com mais conservadorismo, identificando desde cedo o risco de calote.
No caso do Banco do Brasil, a adoção desse novo padrão contábil fez com que o banco deixasse de reconhecer cerca de R$ 1 bilhão em receitas de crédito. Esse valor, que antes inflava o lucro, passou a ser tratado como risco potencial, impactando diretamente o resultado do trimestre.
Em termos simples: o banco teve que ser mais prudente e transparente com a qualidade da carteira de crédito, o que reduziu o lucro reportado – mas não necessariamente sua capacidade de geração de resultado no longo prazo.
Inadimplência maior, especialmente no agronegócio
Outro fator que preocupou o mercado foi a alta da inadimplência. A taxa geral subiu para 3,86% no primeiro trimestre de 2025, ante 2,90% no mesmo período do ano anterior. No agronegócio, segmento no qual o Banco do Brasil é um dos principais financiadores do país, a inadimplência chegou a cerca de 3,04%.
O aumento está ligado a um período especialmente desafiador para o agro em 2023 e 2024, marcado por quebras de safra, seca em diversas regiões e um ambiente de juros elevados. Com crédito mais caro, muitos produtores rurais tiveram dificuldade para honrar seus compromissos, o que se refletiu diretamente nos números do banco.
Essa combinação – novas regras contábeis, inadimplência maior e cenário macroeconômico adverso – levou o Banco do Brasil a revisar seu guidance, ajustando para baixo as projeções de lucro e de desempenho para os próximos meses. A revisão, embora tecnicamente justificável, foi lida pelo mercado como sinal de pessimismo adicional, amplificando o movimento de venda em BBAS3.
Juros em queda e recuperação do agro podem virar o jogo
Do outro lado, investidores mais otimistas enxergam o momento como uma fotografia distorcida de um filme mais longo. A leitura é de que boa parte dos problemas foi concentrada nesse primeiro impacto das novas regras contábeis e da pior fase do agronegócio.
Com a inflação sob maior controle e a expectativa de queda gradual da taxa de juros, a situação tende a ficar menos apertada para produtores rurais, que poderão renegociar dívidas com condições mais suaves. Isso reduz a pressão sobre a inadimplência e abre espaço para recuperação gradual da carteira de crédito problemática.
Além disso, dados recentes mostram reação do setor agropecuário, com crescimento da produção e contribuição relevante para o PIB brasileiro. Como o agronegócio é um dos pilares de receita do Banco do Brasil, qualquer melhora consistente no setor tende a se refletir positivamente nos resultados do banco nos próximos trimestres.
Valuation de BBAS3: desconto expressivo e dividendos robustos
Do ponto de vista de avaliação, o Banco do Brasil passou a negociar em múltiplos considerados bastante atraentes por parte dos analistas e investidores de longo prazo.
Segundo a análise apresentada no vídeo que inspirou este conteúdo, BBAS3:
negocia em torno de R$ 21–22 por ação, após a forte correção;
apresenta P/L na casa de 5–6 vezes, patamar visto como barato para um grande banco brasileiro;
opera com P/VP próximo de 0,69, o que indica que o mercado paga pouco mais de dois terços do valor patrimonial do banco – um desconto superior a 30%;
oferece dividend yield na casa de 13% ao ano, isento de imposto de renda, superando inclusive muitos títulos de renda fixa disponíveis hoje.
Para o investidor que deu origem ao esboço, esse conjunto de fatores forma o “coração da tese”: uma empresa lucrativa, eficiente, com histórico de crescimento de receita e lucros na última década, atravessando um trimestre ruim, mas negociando a preço de liquidação.
Histórico de resultados: banco eficiente, mesmo com tropeços pontuais
Ao olhar os números dos últimos anos, a fotografia muda de tom. A receita do Banco do Brasil cresceu de forma consistente, de cerca de R$ 120 bilhões em 2020 para quase R$ 280 bilhões nos últimos 12 meses, segundo a análise apresentada. O lucro, que girava em torno de R$ 13 bilhões em 2020, praticamente dobrou, alcançando a faixa dos R$ 24 bilhões em 2024–2025.
Ou seja: apesar da “derrapada” recente, o banco não é uma companhia em queda estrutural. Ao contrário, trata-se de uma instituição lucrativa, com forte participação no crédito rural, presença relevante no sistema financeiro e histórico de pagamento de dividendos robustos.
Risco de estatal e estratégia de longo prazo
Nada disso significa que o investimento em BBAS3 seja livre de riscos. Como empresa estatal, o Banco do Brasil está sujeito a interferências políticas, mudanças de rumo em políticas públicas e decisões que nem sempre priorizam o interesse do acionista minoritário – algo semelhante ao que, em outros momentos, já aconteceu com Petrobras.
Por isso, quem monta posição no papel costuma exigir um desconto maior no preço em relação a bancos privados como Itaú ou Bradesco. Esse “desconto estatal” ajuda a compensar o risco adicional.
Na tese analisada, a compra de Banco do Brasil não é pensada para alguns meses, mas para 10, 15 ou 20 anos, com foco em dividendos recorrentes. A posição também não é concentrada: o investidor relata ter carteira diversificada, incluindo elétricas, seguradoras, saneamento e outros bancos, reduzindo o impacto de eventuais novas quedas em BBAS3.
Oportunidade ou armadilha?
Na prática, o mercado segue dividido. De um lado, casas de análise recomendando cautela, destacando o risco de novas revisões de guidance, volatilidade em ano eleitoral e incertezas sobre a inadimplência futura. De outro, investidores que enxergam nas ações do Banco do Brasil um caso clássico de empresa boa atravessando um trimestre ruim – e sendo punida além da conta.
Se a tese de recuperação do agronegócio se confirmar, a inadimplência recuar e o banco se adaptar rapidamente às novas regras contábeis, o cenário pode mostrar que a maior parte do “estrago” já foi precificado nos preços atuais.
Aviso importante
Este conteúdo tem caráter informativo e jornalístico, baseado em análise e opiniões apresentadas em vídeo sobre Banco do Brasil (BBAS3). Não se trata de recomendação de compra ou venda de ativos. Antes de investir, avalie seu perfil de risco e, se necessário, consulte um profissional habilitado.




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