O hidrogênio verde caminha para se tornar uma commodity industrial de grande escala até 2032, com um crescimento projetado que chama a atenção do mercado global de energia. Segundo um novo relatório da consultoria MarketsAndMarkets, o setor deve saltar de um valor estimado de US$ 2,79 bilhões em 2025 para quase US$ 75 bilhões em 2032, o que representa uma taxa composta de crescimento anual (CAGR) de 60%.

A projeção reforça o potencial do hidrogênio verde como vetor central da transição energética, mesmo após um período recente de ajustes no setor, marcado por atrasos em projetos, incertezas regulatórias e revisões de estratégias por grandes grupos de energia.

Um mercado em transição entre ambição e viabilidade econômica

Apesar das perspectivas robustas no longo prazo, o cenário atual ainda reflete um equilíbrio delicado entre metas agressivas de descarbonização e os desafios econômicos de viabilizar projetos em escala de gigawatts. O relatório destaca que o setor vive um momento de transição: deixa para trás a fase experimental e se aproxima de um modelo industrial mais maduro, com decisões finais de investimento (FID) cada vez mais criteriosas.

Compromissos globais de neutralidade de carbono, expansão acelerada da capacidade renovável e a busca por alternativas ao uso de combustíveis fósseis seguem como os principais motores dessa evolução.

Eletrólise alcalina se consolida como tecnologia dominante

No campo tecnológico, a eletrólise alcalina desponta como o principal pilar da indústria até 2032. Em 2024, essa tecnologia já representava 61,2% da participação de mercado em valor, favorecida por custos de capital mais baixos e por uma cadeia de suprimentos consolidada.

Diferentemente dos eletrolisadores de membrana de troca de prótons (PEM), os sistemas alcalinos não dependem de metais preciosos como platina e irídio, reduzindo riscos de custo e gargalos de fornecimento. Com mais de duas décadas de uso industrial, a tecnologia oferece confiabilidade e escala — atributos considerados decisivos para projetos de grande porte.

Energia eólica lidera a produção renovável

Do lado da oferta energética, a energia eólica se consolida como a principal fonte para a produção de hidrogênio verde, respondendo por 48,9% do valor de mercado em 2024. A vantagem está nos elevados fatores de capacidade, especialmente da eólica offshore, que frequentemente superam 50%.

Essa característica permite uma operação mais contínua dos eletrolisadores quando comparada à energia solar, aumentando a eficiência operacional e melhorando a viabilidade econômica dos projetos.

Mobilidade ganha espaço, mas indústria segue relevante

O relatório aponta o setor de mobilidade como o maior segmento de uso final do hidrogênio verde, com 57,7% de participação em 2024. Transporte pesado, logística de longa distância e aplicações marítimas concentram a demanda projetada, especialmente em cenários onde baterias elétricas enfrentam limitações técnicas.

No entanto, dados recentes da Agência Internacional de Energia (IEA) indicam que, atualmente, a maior parte do consumo de hidrogênio ainda vem de aplicações industriais tradicionais, como refino de petróleo e produção de amônia. A diferença evidencia um descompasso entre a demanda atual e as expectativas futuras do mercado.

América do Norte lidera crescimento com apoio de políticas públicas

Geograficamente, a América do Norte deve registrar o crescimento mais acelerado do setor, com um CAGR estimado de 69,7%. O avanço é fortemente impulsionado pela Lei de Redução da Inflação (IRA) dos Estados Unidos, em especial pelo crédito fiscal da Seção 45V, que pode oferecer até US$ 3 por quilo de hidrogênio de baixo carbono produzido.

Após meses de incerteza regulatória, o esclarecimento das regras sobre adicionalidade, correspondência temporal e capacidade de entrega deve destravar novos investimentos. Além disso, cerca de US$ 7 a 8 bilhões estão destinados aos Polos Regionais de Hidrogênio, ampliando a atratividade dos projetos.

Setor passa por recalibração após choque de realidade

Embora o cenário seja promissor, os últimos meses representaram um período de ajuste para o setor. Empresas como Shell, BP e Ørsted revisaram ou cancelaram projetos de grande visibilidade diante de custos mais elevados e desafios regulatórios.

Ainda assim, analistas avaliam que o movimento não indica estagnação, mas sim maturidade. O foco do mercado migra de anúncios especulativos para iniciativas com contratos firmes, demanda garantida e modelos financeiros mais sólidos.

Horizonte de US$ 75 bilhões depende de integração e política estável

À medida que o mercado se aproxima de 2032, o sucesso do hidrogênio verde dependerá da integração eficiente entre grandes parques eólicos e sistemas de eletrólise alcalina, além de marcos regulatórios claros e estáveis, especialmente na América do Norte e na Europa.

Se essas condições forem atendidas, o setor tem potencial para consolidar o hidrogênio verde como um dos pilares da nova economia energética global.

Deixe o Seu Comentário

Quer saber tudo o que está acontecendo?

Receba todas as notícias do O Petróleo no seu WhatsApp. Entre em nosso grupo e fique bem informado.

ENTRAR NO GRUPO

Compartilhar.

Autoridade: Notícias, Mercado Financeiro, Ações Jornalista e gestor editorial com mais de 10 anos de experiência em comunicação digital e cobertura econômica. Fundador do portal, lidera a linha editorial e valida pautas estratégicas relacionadas a juros, inflação, dólar, balanços e movimentações corporativas. 📩 [email protected]