Em 9 de junho de 2025, o governo federal anunciou a intenção de acabar com a isenção de imposto de renda sobre os rendimentos de LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio). Esses investimentos, considerados seguros e rentáveis, poderão ser taxados em 5%, conforme minuta de medida provisória em elaboração.

A proposta visa aumentar a arrecadação e equilibrar as contas públicas, mas ameaça a atratividade de produtos que sempre foram favoritos entre os investidores conservadores.

Por que o governo quer tributar LCI e LCA?

O plano do governo surge após a repercussão negativa do aumento unilateral do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para empresas, previdência privada (VGBL) e operações de câmbio, realizado por decreto sem aval prévio do Congresso. A iniciativa foi criticada por parlamentares e considerada precipitada.

Para contornar o desgaste político e manter a arrecadação, o Ministério da Fazenda propôs ao Congresso uma alternativa: revogar o aumento do IOF e, em contrapartida, criar um novo imposto de renda sobre os rendimentos de investimentos atualmente isentos, como LCIs e LCAs.

Como funciona a LCI e a LCA?

Tanto as LCIs quanto as LCAs são títulos emitidos por instituições financeiras para captar recursos destinados ao setor imobiliário e ao agronegócio, respectivamente. Além de contarem com a garantia do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) até R$ 250 mil por CPF e instituição, seu principal atrativo é a isenção de imposto de renda para pessoas físicas.

Esses ativos geralmente têm prazos entre 1 e 3 anos e oferecem rentabilidades competitivas frente a CDBs e ao Tesouro Direto, justamente pela vantagem fiscal.

O que pode mudar com a nova proposta?

A medida provisória prevê uma alíquota de 5% sobre os rendimentos de LCIs e LCAs. Ainda não há definição sobre dois pontos cruciais:

  • Retroatividade: a tributação valerá apenas para novos títulos emitidos ou também para os já adquiridos?

  • Abrangência: outros investimentos atualmente isentos, como CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários), CRAs (do agronegócio) e debêntures incentivadas também serão afetados?

Até o momento, a proposta parece se restringir apenas às LCIs e LCAs, mas a incerteza jurídica preocupa investidores e especialistas do setor.

Impactos no mercado financeiro

Se aprovada, a nova tributação tende a reduzir a atratividade de LCIs e LCAs frente a outras opções de renda fixa, como:

  • CDBs com liquidez diária (apesar da incidência de IR, têm maior flexibilidade);

  • Tesouro Direto, especialmente Tesouro IPCA+ e Tesouro Selic;

  • CRIs, CRAs e debêntures incentivadas, que seguem isentos de IR e oferecem rentabilidades atrativas com risco moderado.

Além disso, a medida pode impactar negativamente a captação de recursos para setores cruciais da economia brasileira, como o agronegócio e o mercado imobiliário, que dependem fortemente desses papéis para financiamento.

Alternativas para manter isenção e segurança

Com a possível taxação das LCIs e LCAs, investidores podem buscar alternativas com isenção de imposto, como:

  • Debêntures incentivadas de infraestrutura (com foco em energia, transporte, saneamento);

  • CRIs e CRAs com boa análise de crédito e lastros sólidos;

  • Fundos de infraestrutura (FI-Infra) que também contam com benefícios fiscais e oferecem retornos acima do CDI.

Contudo, é essencial realizar uma análise detalhada de cada ativo, observando risco de crédito, liquidez e prazos.

O que esperar nas próximas semanas?

A medida provisória ainda está em fase de redação e deve ser encaminhada ao Congresso em breve. A expectativa é que seja aprovada com facilidade, já que faz parte de um acordo para suavizar a insatisfação do Legislativo com as mudanças no IOF.

Investidores devem se preparar para um novo cenário na renda fixa, com mudanças significativas na composição das carteiras e uma provável redução da eficiência tributária de produtos até então considerados “premium”.

A possível tributação de LCIs e LCAs marca um ponto de inflexão para o investidor conservador no Brasil. A era de isenção para esses ativos pode estar chegando ao fim, exigindo mais atenção na diversificação da carteira e na escolha de produtos com bom risco-retorno.

Fique atento à publicação da medida provisória nas próximas semanas. Até lá, o momento é de avaliar alternativas e se preparar para uma nova realidade na renda fixa brasileira.

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Fabiola Cunha é especialista em finanças e investimentos, com certificações pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (ANBIMA) e MBA em Gestão de Investimentos pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Com uma carreira de mais de 12 anos no mercado financeiro, ela se destaca por sua habilidade em planejar estratégias de investimentos pessoais e empresariais. No O Petróleo, Fabiola escreve sobre oportunidades de investimento, dicas de finanças pessoais e tendências do mercado de capitais.