quinta-feira, 21 novembro / 2024

Um novo megaporto em Chancay, localizado a cerca de 80 quilômetros de Lima, Peru, pode revolucionar as exportações brasileiras de grãos. Controlado pela estatal chinesa COSCO Shipping, o porto ocupará 280 hectares e contará com berços de quase 18 metros de profundidade, permitindo a atracação de grandes embarcações. A inauguração está prevista para novembro, com a presença do presidente chinês, Xi Jinping.

O governo brasileiro já se mobiliza para aprimorar as relações comerciais com o Peru, visando facilitar o escoamento de produtos agrícolas. Em um esforço colaborativo, agricultores brasileiros e representantes do governo, como a ministra do Planejamento, Simone Tebet, realizaram visitas ao país andino para fomentar negócios. Uma medida significativa para melhorar a eficiência do comércio será a instalação de uma alfândega em Tabatinga, Amazonas, na fronteira com o Peru.

Atualmente, as exportações brasileiras para o Peru totalizam aproximadamente US$ 3,2 bilhões anuais, um aumento de 52% nos últimos dez anos. Com o novo porto, as autoridades brasileiras esperam expandir as vendas, especialmente de produtos do agronegócio, como carnes e óleos vegetais, que representam 5% do total exportado para o país vizinho.

Desafios logísticos a superar

Apesar das perspectivas promissoras, um dos principais obstáculos para maximizar o potencial do porto de Chancay é a infraestrutura logística do Brasil. A conexão entre o Centro-Oeste, principal região produtora de grãos, e o Peru ainda é precária. As principais rotas, como a BR-364, que liga São Paulo ao Acre, enfrentam problemas de conservação e infraestrutura.

O governo brasileiro planeja transferir parte da gestão das estradas para a iniciativa privada e leiloar quase 500 quilômetros de rodovias em Goiás e Mato Grosso. A lentidão do desenvolvimento do sistema ferroviário, especialmente a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), que ainda está em construção, também representa um desafio significativo.

Com o porto de Chancay quase pronto, existe uma janela de oportunidades para investimentos em infraestrutura que podem incluir colaboração chinesa. Hsia Hua Sheng, professora de finanças corporativas na Fundação Getúlio Vargas, destaca que a China está interessada em promover exportações pelo Pacífico, e a melhoria do sistema de transporte no Brasil poderia ser uma prioridade compartilhada.

A cooperação já se manifestou em termos de financiamento. Em junho, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) firmou um contrato com o Banco de Desenvolvimento da China (CDB) para um empréstimo de USD 800 milhões destinado a projetos de infraestrutura e agrícolas. Novos empréstimos para o desenvolvimento do transporte são possíveis, dependendo das negociações entre os dois países.

O porto de Chancay representa uma oportunidade única para o Brasil diversificar suas rotas de exportação e aumentar sua presença no mercado global de grãos. No entanto, para que essa nova rota se torne um sucesso, é fundamental que o Brasil enfrente os desafios logísticos e melhore sua infraestrutura de transporte. Com investimentos adequados e colaborações estratégicas, o Brasil pode se beneficiar significativamente dessa nova via comercial.

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Thailane Oliveira é advogada formada pela USP e possui mais de 12 anos de experiência em políticas públicas e legislação de trânsito. Seus artigos explicam de forma clara as mudanças nas leis que afetam motoristas, ciclistas e usuários de transporte público.