O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, decidiu substituir o chefe da estatal petrolífera Petrobras, nomeando um general do Exército aposentado sem experiência em petróleo e gás como CEO após semanas de confrontos com o atual chefe executivo sobre aumentos nos preços dos combustíveis.
Em uma declaração na sexta-feira passada do Ministério de Minas e Energia, compartilhada pela primeira vez na página do Bolsonaro no Facebook, o governo disse que decidiu nomear o ex-ministro da Defesa Joaquim Silva e Luna para dirigir a Petróleo Brasileiro, como a empresa é formalmente conhecida.
O atual CEO Roberto Castello Branco, apoiado por investidores por seus esforços para vender ativos de baixo desempenho e cortar dívidas, seria o segundo líder da Petrobras em três anos a cair devido às consequências políticas dos preços dos combustíveis. Em 2018, o então CEO Pedro Parente renunciou quando o governo forçou a redução dos preços dos combustíveis em uma concessão a caminhoneiros em greve.
Parente prometeu fixar os preços domésticos em linha com os mercados globais, rompendo com uma política que obrigava a Petrobras a vender combustível abaixo da paridade internacional, gerando perdas de cerca de US $ 40 bilhões de 2011 a 2014.
Da mesma forma, Bolsonaro se envolveu com Castello Branco por causa de sua insistência em aumentar os preços do diesel e de outros combustíveis à medida que a moeda brasileira enfraquecia e os preços globais do petróleo aumentavam.
Os ADRs da Petrobras negociados em Nova York caíram 8,9 por cento nas negociações após o expediente na sexta-feira, adicionando-se à queda do dia de quase 7 por cento em suas ações preferenciais listadas no Brasil.
A Petrobras tem aumentado os preços dos combustíveis desde que um relatório da Reuters de 5 de fevereiro divulgou detalhes da política de preços da empresa, o que levou analistas a rebaixar suas ações por causa de possíveis interferências políticas.
A demissão de Castello Branco pode forçar uma mudança mais ampla na Petrobras, que se voltou para políticas mais favoráveis ao mercado e menos politicamente orientadas nos últimos anos.
A alta administração da empresa está considerando renunciar em massa para protestar contra a substituição do CEO, disseram três pessoas próximas aos executivos à Reuters na noite de sexta-feira.
A Petrobras disse em um comunicado que recebeu notificação do Ministério de Minas e Energia sobre a mudança proposta do CEO, acrescentando que o ministério havia solicitado uma assembleia geral extraordinária.
O conselho de administração da empresa deve se reunir na terça-feira em uma sessão regularmente agendada.
A maior parte do conselho até agora se mostrou leal a Castello Branco, embora a maioria seja indicada pelo governo, o que poderia criar uma transição complicada.
Castello Branco, cujo atual mandato expira oficialmente em 20 de março, foi nomeado para liderar a Petrobras quando Bolsonaro assumiu o cargo no início de 2019.
Economista formado pela Universidade de Chicago e aliado do ministro da Economia, Paulo Guedes, ele é um forte defensor das políticas de livre mercado e já rejeitou as reclamações do presidente sobre os preços.
Mas os investidores estão preocupados com uma possível interferência política desde que o produtor de petróleo confirmou que estava vendendo combustível no Brasil abaixo dos preços internacionais por períodos mais longos do que o divulgado anteriormente, confirmando um relatório da Reuters.
A possível sacudida da alta administração também coloca em dúvida um dos principais objetivos do CEO: acabar com o quase monopólio da Petrobras no refino no Brasil, disseram três fontes próximas a licitantes.
Silva e Luna, que tem recebido elogios frequentes de Bolsonaro por sua gestão da enorme hidrelétrica de Itaipu no Brasil na fronteira com o Paraguai e a Argentina desde 2019, é pouco conhecido dos investidores.
Ele seria a terceira figura militar a ocupar um cargo-chave no setor de energia: o presidente do conselho da Petrobras e o ministro de Minas e Energia do país são almirantes.
Em abril de 2019, poucos meses após a posse de Bolsonaro, o presidente exigiu explicações para a alta da Petrobras, que foi rapidamente revertida. Depois que as ações da empresa despencaram, a Petrobras e o governo garantiram aos investidores que não haveria interferência política nos preços dos combustíveis.
As tensões diminuíram no ano passado com a queda dos preços do petróleo, mas os caminhoneiros renovaram suas reclamações nos últimos meses.
Durante um anúncio na quinta-feira sobre a redução dos impostos sobre os combustíveis, Bolsonaro deixou claro sua insatisfação com Castello Branco, dizendo que haveria mudanças na Petrobras “nos próximos dias”. Analistas e investidores ficaram chocados com a rápida sucessão de eventos na quinta e na sexta-feira.
“É uma situação delicada e aconteceu de forma muito desorganizada”, disse Edmar de Almeida, professor com especialização em energia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A Petrobras completará 67 anos em 2021 e terá seu 39º CEO – ou cerca de um chefe a cada 18 meses, disse o analista do UBS Luiz Carvalho.
Os problemas da empresa vão persistir enquanto seu acionista controlador – o governo – não entender que o problema não é com os executivos da empresa, mas com a falta de uma estratégia coerente de cima, disse.
“Enquanto o mundo caminha para uma transição energética com uma matriz energética mais limpa, no Brasil estamos discutindo subsídios para consumidores de diesel”, disse Carvalho.
